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Pedaços de Psiquismo


O ser humano só pode ser visto como uma globalidade, como um todo orgânico em funcionamento, e não pode ser interpretado nem julgado por um pedaço isolado de seu psiquismo, quer seja por uma única emoção, por único pensamento, por umas poucas palavras que ele profira. Ele é um todo indivisível.


Por isso é preciso que os estudantes de astrologia, que estão começando a estudá-la, não se iludam com as partes isoladas do horóscopo, que são como as palavras que constituem uma frase, ou como letras de um alfabeto, ou ainda como um verso de um belo poema.


Cuidado, portanto, com os grupos artificiais tão propalados nos manuais de astrologia tais como: planeta no signo, planeta na casa, aspectos planetários isolados, Lua em mau aspecto com Netuno, influencia do Nodo Lunar, da Parte da Fortuna, da Lillith, etc. Dar excessivo valor isolado a essas partes pode levar a tremendos equívocos, que fazem da realidade do horóscopo individual uma mera fantasia, trazendo somente descrédito ao seu estudo sério. Mesmo porque o mapa individual é uma coisa especialíssima, unívoca, não repetível, muito particular, muito peculiar e singular, a cada individuo. O mesmo tema pode pertencer a um sábio, a um ignorante, a um homem bom, a um homem mau, a um criminoso, a um santo, a um líder, a um artista, a um operário, que vai vivê-lo nos vários níveis da experiência humana, enfim, sua maneira especial, conforme o seu grau de consciência, conforme o seu nível evolu­tivo.


Como diz no texto seguinte C. Santagostini: "Um manual de astrologia consiste em mostrar os significados atribuídos a certo número de pedaços de psiquismo humano tais como planetas nos signos, planetas nas casas, etc., e tudo isso isoladamente, fora do contexto complexo do tema global do indivíduo”.


Vejamos, por exemplo, num desses manuais, significação dada á dissonância de Vênus a Netuno. Diz um deles: "Aberrações afetivas podendo conduzir a amores quiméricos, a sentimentos utópicos; aventuras rocambolescas, atrações obscuras, aspirações insensatas, possível orientação para amores ilegais, escandalosos ou complicados". A mesma dissonância assim explicada junto a outro autor: "Instabilidade e infidelidade, duplicidade e engano no amor, sensualismo; o sujeito se deixa facilmente influenciar e se amarrar; amores facilmente pervertidos; perigo de sedução para a mulher; relações sentimentais complicadas; mulheres colantes, vampiros". Então não estamos vendo absolutamente nada de bom, nada de positivo, o que um grande absurdo. Estes são pedaços de psiquismo bastante distorcidos da verdade, aos quais se atribuem valores existenciais que uma vez examinado no tema individual em sua globalidade podem perfeitamente não pertencer à personalidade.


Este globalismo bastante conhecido e afirmado pelos bons pesquisadores e psicólogos modernos. Homem não pode ser compreendido por partes isoladas. São fragmentos soltos que não se integram na personalidade total. A própria psicologia retoma um caminho sintético e procura as estruturas que não são estáticas, mas num complexo funcionamento orgânico das partes constituintes. É como querer interpretar uma personalidade por ter um pé torto, por ser cego das duas vistas. Interpretar o todo pela sua parte é como um cego apalpar a tromba de um elefante e julgar que aquilo é uma mangueira de um carro de apagar incêndio utilizado pelos bombeiros!


Os elementos analíticos, os traços de caráter, devem ser subordinados em benefício das funções de conjunto. O que interessa é a resultante final das diversas e totais atitudes da pessoa. Ora, esta psicologia da estrutura orgânica visa atender, através do comportamento aparente, as disposições profundas centrais. Cada elemento considerado como a manifestação de um todo, e de um todo que está em movimento, em transformação, em mudança constante, que está sempre se modificando ao longo do tempo. Por exemplo, o tema de Santo Agostinho, de São Francisco de Assis, de Hi­tler, de Napoleão, de Ellen Keller, de Vítor Hugo, de Charles Chaplin, que sofreram grandes transformações em sua vida! Tudo vai depender do trabalho, do esforço, da dedicação, da escolha, da vontade do sujeito, das suas deliberações, enfim, do seu livre arbítrio.


Os astrólogos praticantes dizem que cada horóscopo natal é específico do sujeito e que o seu mapa representa a base inicial e profunda do recém-nascido.


Num mesmo momento e lugar, por exemplo, num hospital nascem muitas crianças. Uma delas pode vir a se tornar o presidente da República, um grande magistrado, e as outras vão ter destinos diferentes. Mas como se explica isto se todas elas têm o mesmo tema, se estas crianças que tiveram o mesmo tema, se são detentores de uma mesma formula astral? Como se explica isto? A resposta que as crianças não provém da mesma linha ancestral; não tem a mesma hereditariedade a mesma bagagem de outras vidas. Suas tendências diferem em força e valor, embora tenham estruturas psíquicas semelhantes. Por isso é preciso ter em grande conta os valores hereditários, como o grau evolutivo da pessoa. Uma vai viver aquilo no lado positivo, outra no lado negativo. Não podemos, portanto, julgar o psiquismo do sujeito somente com o auxílio do tema. Logo, a astrologia sozinha não pode explicar tudo. E se ela não explica tudo, qual é a sua natureza e o limite de suas possibilidades? Onde começa o seu uso exagerado?


O estudo da astrologia, como um instrumento do conhecimento do homem, como instrumento do "conhece-te a ti mesmo" só nos pode dar uns 33%; os outros 33% são dados pelo estudo e compreensão das Leis Espirituais. Até aqui temos 66% de possibilidades de conhecimento, mas o restante é impossível no presente estágio da evolução humana.


Por outro lado, crianças retardadas, mesmo anormais, cujos temas são harmônicos; e entre as que tem temas dissonantes há as que vencem suas dificuldades fazem bons estudos. Muitos homens célebres têm temas fortemente dissonantes e têm comportamento equilibrado.


Na realidade, a harmonia entre dois planetas significa somente que há um acordo entre as significações simbólicas destes dois planetas, mas este acordo não é obrigatoriamente bom. Igualmente, a dissonância entre dois planetas significa que há uma tensão entre os simbolismos destes dois planetas, o que não é sempre mau, e frequentemente, ao contrário, pode ser excelente. Se a quadratura entre dois planetas pode ser um aspecto dissonante, destrutivo, pode ser também regenerativo. Pode significar concretização manifestação, mobilização das forças aí presentes. A quadratura é um aspecto que funciona como um motor das ações humanas que leva ao crescimento. A pessoa se vê obrigada a agir; compulsivamente levada a tomar uma iniciativa e não o deixa em sossego. Ela proporciona o crescimento interior pela luta com o ambiente exterior e pelos embates consigo mesmo para superar os seus instintos, emoções, formas mentais e tendências opostas dentro de si. O aspecto harmônico por sua vez não é necessariamente bom, ou o indivíduo pode não saber aproveitá-lo. Por exemplo, o indivíduo nasceu num ambiente favorável, como os pais muito ricos, mas pode não aproveitar os recursos disponíveis num curso superior, no aprimoramento do seu espírito. Ele pode ser indolentes, preguiçosos, displicentes; pode perder as oportunidades, não saber aproveitá-las, ao mesmo tempo ele pode achar que tudo é fácil. Por isso mesmo nunca devemos aceitar as pé da letra as famosas regrinhas de interpretação.

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